Notes

Você me perguntou se eu estava amando uma certa vez.
Eu não estava, eu estou. Eu estou apaixonado pelo mundo pelos olhos de uma garota. Os olhos dela são suaves, e o medo dela não é maior do que a sua vontade de desbravar o mundo. Sua delicadeza externa é também interna, e a sua fúria interna é suave por fora, mas ao mesmo tempo indomável. Nada pode deter aqueles olhos. Olhos que hora pedem calma, olhos que hora pedem paz, mas que também podem querer a morte. E não há quem possa conter. Uma caixa de pandora, e eu amo cada um dos pequenos caos que existem dentro. Amo seu conflito interno constante. Amo todas os pequenos movimentos que a boca dela faz e ela nem percebe, um pra cada sentimento, um pra cada situação.
Se ela me perguntasse se eu a amo, eu diria que sim, apesar de todos os meus erros. Eu a amo. Sei que não a mereço, eu nunca seria digno de recebe-la. Como? Como? Como? Como poderei eu?
Mas ainda sim, eu diria, a amo, de forma crescente, como a lua que de minguante se torna cheia. E mesmo quando ela se torna minguante de novo, ah, eu ainda a amo, porque a lua sempre é cheia. E ela está perto da lua. Eu tenho a impressão de que ela se senta lá e fica balançando com os pés no universo como se estivesse em cima do lago celestial. E de fato, ela é celeste. Como uma divindade grega que tem o poder de controlar a vida dos mortais e escolher o seu destino, ela tem o meu destino nas mãos dela.
E se ela me perguntasse se eu ainda a amaria, e até quando, eu respondia, que eu amaria ainda que todos os bombeiros do mundo morressem e o mundo fosse um incêndio constante e ninguém mais pudesse fazer amor sob o risco do atrito causar fogo. Eu a amaria ainda que todos as torcidas de futebol do mundo me impedissem de amá-la. Eu a amaria ainda que transcrevessem meu dna ao contrário e destruíssem o meu corpo. Eu amaria mesmo se eu estivesse em outro corpo, mesmo se eu estivesse em outra mente, se eu a visse com outros olhos. Porque o que eu vejo não depende só dos meus olhos, e sim da sua graciosidade. Eu a amaria ainda que todos os videogames do mundo quebrassem, e eu a amaria ainda que o frescobol necessitasse de eletricidade para funcionar. São situações absurdas? São sim, mas absurdo ainda é eu imaginar não amando-a. Eu preciso da pele dela como uma tartaruga precisa de sua casca e como os coelhos precisam apostar corridas com humanos para terminar em situações filosóficas complicadas de se explicar. Eu a amo como pássaros precisam de asas e em como precisamos contar que colocar o dedo numa borboleta e depois esfregar nos olhos vai torná-lo cego. Eu a amo como o iceberg amou o Titanic, e em como os conspiracionistas amam dizer que a culpa foram da sociedade dos jesuítas. Te amaria ainda que eu fizesse parte do MK-Ultra, e que sabendo que beijar você aumenta a concentração de flúor nos nossos corpos. Eu a amarei ainda que o mundo seja destruído, e só nossas memórias imateriais vaguem ao redor do universo, até se encontrarem num buraco negro e se misturarem e virarem um novamente, então no amontoado de todas as memórias, a minha encontraria a sua, e então seríamos uma supernova, juntos, inseparáveis pelos próximos bilhões de ano, até que o processo se repetisse e eu precisasse encontrar você por cada canto microscópico do universo. Eu encontraria você mesmo se estivesse dentro dum cometa que viaja na velocidade da luz, e eu encontraria você mesmo se você se tivesse se perdido dentro duma bactéria invisível e microscópica. Se eu acreditasse no big bang, eu diria que nossos átomos já se gostavam, mas precisamos de bilhões de anos até que eles se juntassem novamente. Mas eu amo você como Adão amou Eva, eu acredito que você foi feita pra mim como ela foi feita pra ele, e em como, desde a eternidade, nós já existíamos na mente de Deus, e se tivéssemos consciência disso, sorriríamos aguardando o dia que fosse materialmente audível o som da minha boca para os teus ouvidos: Eu a amo, Carolina. Sim, teu nome completo. Eu não te amo até o L, eu te amo de C até A, e de A até C, até que o alfabeto não seja mais capaz de conter o nosso amor e falar com a fonética humana seja impossível, então eu precisarei criar uma língua gutural. Ar, ergh, urgh, guuuur. que traduzido é: Eu amo você*