Notes

Sempre fui uma daquelas pessoas que acredita firmemente que um dia o amor verdadeiro irá aparecer na minha frente. Eu admito, eu nunca fui o cara certo para um relacionamento, eu nunca consegui me manter fiel a uma unica pessoa, e eu acho que isso é por que eu nunca me apaixonei de verdade. Eu já gostei muito de (poucas) pessoas, sejam elas do sexo feminino ou masculino, sim, eu sou bissexual, mas eu nunca experimentei o amor, eu não sei o que é o amor verdadeiro, mas por algum motivo idiota eu acredito que ele existe. Quem sabe nessa minha nova fase da vida eu não consiga finalmente descobrir as "maravilhas" do amor. Ou não.
Esse ano eu começo minha faculdade de fotografia. Eu sempre gostei de marcar os melhores momentos de alguma forma, e a máquina fotográfica me ajuda muito com isso. Além disso, eu sempre gostei de como uma foto consegue representar tanta coisa ao mesmo tempo, uma simples imagem pode fazer cada um criar um sentimento diferente dentro de si. O ruim disso é que as faculdades do meu curso são todas no interior, então eu terei que morar em uma república, o que deve ser no mínimo interessante, mas eu acho que não me sinto completamente independente para isso. Eu ainda não conheço meu colega de quarto, então estou rezando dia e noite para eu ter a sorte de meu companheiro ser alguém parecido comigo e que tenha a paciência de me ouvir cantar o dia inteiro. Não que eu cante bem, eu só gosto de cantarolar músicas que representem meu humor, e como meu humor é como uma montanha-russa, eu canto sempre.
Hoje é meu último dia na casa dos meus pais, a casa que eu vivi minha vida inteira até hoje. Minha irmã já veio no meu quarto mais de vinte vezes só para mandar eu ligar para ela todo dia no skype. Nós somos muito próximos, sempre fomos, mas as vezes todo esse grude cansa, talvez morando fora isso passe.
- Harry, daqui 30 minutos o táxi está aí na frente. Já está com tudo pronto querido? - Minha mãe disse entrando no meu quarto. Eu já estava com tudo pronto já faz tempo, acho que não é tão complicado jogar tudo do armário nas minhas malas.
- Sim mãe. - Disse olhando no meu celular enquanto apoiava minhas costas no encosto da cama. Ouvi um fungado e olhei para a porta. Minha mãe estava chorando.
- Você vai fazer falta bebê. - Normalmente eu me incomodaria por ela ter me chamado de "bebê", mas essa era outra situação. Deve estar sendo duro para ela, ver seu filho mais novo saindo de casa tão cedo, e indo morar em um lugar estranho com pessoas estranhas. Bloqueei meu celular e joguei em algum lugar da cama. Levantei rápido e fui abraçá-la. Eu tenho 19 anos e sou mais alto que ela, muito mais alto, e mesmo assim ela ainda me chama de "bebê". Ela sempre foi uma mãe ideal, uma mãe presente e atenciosa, e eu a agradeço muito por isso. Mesmo não sendo o filho exemplar, eu sei que ela sente muito orgulho de mim, assim como eu sinto dela. Por um tempo da nossa vida, ela teve que cuidar de mim e da minha irmã sozinha. Nós ainda eramos muito pequenos, então minha mãe trabalhou dia e noite para tentar nos sustentar, já que o idiota do meu pai sumiu da nossa vida de repente. Ele tinha, e ainda deve ter, problemas com bebidas e drogas, então o melhor que ele fez foi se afastar. Quando minha mãe conheceu o Robin, nossa vida só melhorou. Ele a faz muito feliz, e sempre foi muito carinhoso com a gente, então nós não temos do que reclamar. Eles se casaram e eu vejo o Robin como o meu verdadeiro pai, e acredito que Gemma também o vê assim.
Abracei minha mãe mais forte e beijei o topo da sua cabeça.
- Muito obrigada por tudo mãe. - Eu disse com os olhos fechados. Eu ia sentir muita falta dela.
- Prometa que você irá me ligar sempre quando puder, e que você virá para cá nas suas férias.
- Sim, claro que sim mãe. Eu não vou conseguir ficar tanto tempo sem a comida do Robin - Nós rimos baixo. Realmente, a comida do Robin era boa demais para ficar tanto tempo sem comê-la.
- Bom - Ela saiu do abraço e limpou suas lágrimas - Vá se despedir da sua irmã e do Robin, logo mais o táxi está aí. - Eu abracei ela mais uma vez e ela saiu do meu quarto. Peguei minhas malas e celular, olhei para meu quarto praticamente vazio e me despedi em silêncio. Desci as escadas e minha irmã e Robin estavam sentados na sala.
- O mais novo universitário está pronto? - Robin disse sorrindo e levantando para me abraçar. Retribuí e ri anasalado. - Aproveite muito Harry, as aulas, os professores, e o mais importante, as festas - Ele disse baixo no meu ouvido e batendo levemente nas minhas costas.
- Com certeza senhor - Disse na brincadeira e separei o abraço. Não demorou para que minha irmã se jogasse em meus braços chorando.
- É sério Harry, se você não me chamar no skype toda semana, eu vou até lá para fazer você me dar satisfações. - Ela disse contra meu ombro enquanto eu a abraçava mais forte. Vai ser difícil morar longe da minha irmã. Sempre fomos melhores amigos, ela sabe de todos meus segredos assim como eu sei dos dela.
- Vou sentir sua falta Gem - Disse com a voz trêmula. Ficamos mais um tempo abraçados assim que ouvimos a buzina mostrando que o táxi tinha chegado. - Se cuida Harry, e eu digo literalmente. Não vá beber muito logo na sua primeira festa, e nem invente de fazer mais tatuagens bizarras além das que você já tem - Minha irmã disse e eu balancei a cabeça, indo pegar minhas malas.
- É claro que eu vou me cuidar Gemma - Tentei tranquilizá-la, mas eu sabia que era provável que eu desse pt assim que eu pisasse na república. Fui em direção ao táxi e dei uma última olhada para minha casa. Minha família estava na porta e acenava para mim, a típica cena de filme. Ri sozinho e entrei no carro. Eu ia sentir falta desse lugar. De hoje em diante, as coisas vão ser completamente diferentes.
Dormi o caminho inteiro, só fui perceber que chegamos na república quando o motorista estava gritando para que eu acordasse e saísse de seu carro. Paguei o mesmo e saí, pegando minhas malas. O carro foi embora e eu então pude olhar ao meu redor. A rua praticamente inteira era preenchida com prédios baixos todos iguais e pessoas rindo alto com músicas soando de todos os cantos. Olhei o papel que estava no meu bolso que mostrava o número do meu prédio e meu quarto. Prédio número 5. Legal, não sei nem qual é esse na minha frente. Comecei a andar e por um momento eu me senti deslocado. Havia tanta gente ao meu redor, tanto barulho, mas eu me sentia sozinho. Os prédios não tinham números, pelo menos eu não via nenhum número. Não queria ficar perdido logo no primeiro dia fora de casa. Coloquei minha mala no chão e respirei fundo. Olhei ao redor e não havia nenhum número sequer.
- Que merda! - Pensei alto.
- Você quer ajuda? - Uma menina loira me perguntou, me assustando por alguns segundos.
- Por favor, meu prédio é o 5, mas eu não vejo nenhum número aqui nessa rua - Perguntei lhe mostrando o papel.
- Ah, seu prédio é no conjunto Emotion. Você tem que seguir nessa rua e haverá uma placa com esse nome. Aí é só você contar 5 prédios e voilà - Ela disse sorrindo e me devolvendo o papel. - Se você quiser eu posso te levar lá.
- Seria ótimo - Eu disse sorrindo e pegando minhas malas. Pelo menos eu já conheço alguém no meio dessa muvuca. - Meu nome é Harry.
- O meu é Cara. É sua primeira vez morando fora?
- Sim - Disse meio envergonhado enquanto caminhávamos - É meio assustador - Admiti.
- Não se preocupe, em uma semana no máximo você já está super entrosado e nem vai pensar mais em sair desse lugar! - Ela disse rindo e eu a acompanhei. Espero que seja assim mesmo, por enquanto eu só conheço ela- Você já conhece seu colega de quarto?
- Não. Estou torcendo muito para que seja uma pessoa legal.
- Se você der sorte, pode cair com uma pessoa do seu mesmo curso, sendo mais fácil pra fazer amizade. Afinal, que curso você está fazendo?
- Fotografia, e você?
- Estou fazendo design. Nossos cursos são muito parecidos, acho que a gente ainda vai se ver muito no campus da faculdade - Ela disse sorrindo e me senti aliviado, pois assim não ficarei tão sozinho no campus pelo menos.- É esse aqui Harry - Ela apontou para o prédio. Ele era azul claro com várias janelas brancas, diria que era simples e bonito.
- Muito obrigada Cara! - Disse olhando para ela e acenando com a cabeça.
- Não tem o que agradecer. Se você quiser anotar meu telefone para alguma ajuda sobre a república é só me ligar ou mandar mensagem - Eu concordei e anotei seu telefone. A agradeci mais uma vez e entrei no prédio.
O hall era simples, pequeno com algumas plantas e quadros. Não tinha elevador, então subi pelas escadas e cheguei no meu corredor quase morrendo, já que as malas estavam mais pesadas que bolas de boliche. Meu apartamento era o 23. Será que meu colega de quarto já está lá? Fiquei nervoso por algum motivo. E se o cara for um repleto babaca? E se ele for um daqueles que não suporta bagunça? Ou então um daqueles que tem o quarto parecendo um campo de guerra? Fiquei tão preso em minhas perguntas que não vi que já estava em frente a porta do 23. Abri com a chave e entrei devagar. Quando fui entrar, alguém, que provavelmente estava saindo do quarto, esbarrou em mim.
- Oops - Um menino de olhos azuis falou.
- Oi - Eu disse meio envergonhado.
- Foi mal, eu estava saindo e não vi que você estava entrando - Ele disse rindo. Porque isso é tão embaraçoso para mim? Ele parece estar tão calmo.
- Não tem problema - Eu disse com meu melhor sorriso - Eu sou o Harry - Levantei minha mão para cumprimentá-lo.
- Sou o Louis - Ele apertou minha mão. Sua mão era menor que a minha, o que era engraçado por algum motivo.