Notes

Nascido no seio do clã dos Quebra Lascas, numa família de 5 irmãos, Schnicktick cresceu bem, e posteriormente desempenhou satisfatoriamente as suas funções na cidade subterrânea de Oddgrog, onde exercicia a atividade de mineração. Sua cidade era humilde e pacata com cerca de 3.000 habitantes, apesar de ser praticamente intransponível, devido as várias armadilhas e passagens confusas. A economia girava quase 100% em torno de pedras preciosas e artesanato. Aos homens lhes eram incumbidos as funções de mineradores e ourives, porquanto as mulheres ficavam à par da ornamentação e o toque final nas jóias, que posteriormente eram vendidas para os ricos nobres e mercadores nas redondezas de Irontown.
Tudo corria na mesma normalidade de sempre, na sua rotina mineradora, apenas contribuindo para a economia de sua cidade e satisfação de sua família, aguardando o fim comum que vem para todos os gnomos das profundezas: uma velhice com várias dores na coluna e vários filhos ao redor. No entanto, certo dia, Schnicktick acordou e, a primeira coisa que percebeu, não conseguia se levantar e nem respirar direito. Havia uma pedra em cima dele. Sua casa havia desabado, e ao lado dele padecia o corpo de sua irmã mais nova, fatalmente esmagada apenas com a metade para fora. Ele ouvira explosões, gritos e ranger de pedras, sem entender o que estava acontecendo. Eis que um semblante demoníaco, sádico e aterrador se depara com ele: era um hobgoblin, de um clã de mercenários. Logo este se juntou com outros lacaios e retiraram a pedra de cima da malfadada criatura.
Os mercenários, humanos e hobgoblins, estavam a pilhar sua cidade, matar os que se atreviam a se defender, e capturar aqueles que só esperavam pela morte, que logo em seguida tinham suas línguas cortadas com lâmina quente. Sua cidade foi explodida, seus bens foram saqueados, e seu povo foi capturado.

No mercado negro, os gnomos das profundezas são muito apreciados, apesar de teimosos e feios, sua mão de obra é valorosa! Seu corpo consegue aguentar jornadas extenuantes de trabalho, e sua habilidade manufatureira é invejável! Fora transportado em carroças fechadas, com outros dos seus semelhantes, até a cidade de Vedykar, onde não tardou muito até que fosse vendido para um humano, que o comprou para que ele transportasse suas mercadorias.
Esse humano era Tomor, um mercador de especiarias, onde Schnicktick o seguia para todo lugar servindo-o de mula e artesão. Certo dia, um elfo se depara de fronte à barraca de Tomor, procurando especiarias selecionadas para a produção de poções mágicas. O elfo logo ficou intrigado com a estranha criatura. De fato, não é todo dia que se vê um gnomo das profundezas, criatura extremamente reclusa e subterrânea. Mas o que mais lhe chamou a atenção foi o semblante vazio e desolador da criatura, que estava amordaçada, e acorrentada ao suporte da barraca.
O elfo deu o preço - um muito acima da média, mesmo para criaturas tão caras como os gnomos das profundezas -, e não ouviu uma recusa. Tomor vendeu o seu escravo para ele e ficou muito feliz achando que tinha enganado mais um idiota com sua venda superfaturada.

O elfo se chamava Azazel, agora novo dono de Schnicktick, o levou para Trolanport. Azazel era dono e bibliotecário de uma humilde biblioteca em Trolanport, e lá ensinou Schnicktick a realizar seu primeiro trabalho não-braçal da vida: organizar e catalogar os livros. Azazel falava pouco com Schnicktick, mandava-o recolher alguns livros, pegar outros, conferir planilha de empréstimos. As vezes passavam semanas em que Azazel não dirigia uma palavra para o gnomo, que nas horas em que o trabalho não lhe demandava tempo ou esforço, lia escondido e com medo de ser flagrado pelo seu dono - sua leitura favorita era sobre magia, estava deslumbrado com tantas possibilidades, até então achava que apenas a sua magia era possível.
Após 2 anos nessa rotina, em um dia chuvoso em Trolanport, Azazel fora entregar a comida ao gnomo ao fim do expediente e, antes que deixasse-o comer, Azazel sentou-se no chão frente à ele, e o abriu a boca. Murmurando algumas palavras e gesticulando, Azazel tocou a boca do gnomo e deu vida à sua língua. Schnicktick agora poderia ouvir sua própria voz após mais de 15 anos.
A primeira coisa que pensou foi: "Esse idiota não sabe que posso usar minhas magias para fugir agora que posso falar?". E por esse mesmo motivo ficou intrigado com a calma e a serenidade de Azazel, que não parecia estar preocupado. Na verdade ele nunca esteve. Schnicktick teve espamos involuntários de memória, como se um filme passasse pela sua cabeça, ele notou por toda trajetória que Azazel o estava querendo ajudar. Azazel nunca o tratara como uma sub-espécie, e sempre soubera que ele andava lendo escondido sobre magia - na verdade, Azazel punha alguns livros propositadamente para que Schnicktick lesse.
Agora, de mero escravo, Schnicktick foi promovido à secretário. Lhe foi ensinado a ler e escrever em élfico, e Azazel lhe mostrara as maravilhas do mundo élfico, suas magias e suas conquistas. De tanto ler, não conseguiu deixar apenas em sua imaginação, resolveu tentar praticar - escondido, claro. E após quase explodir um armazém dos livros, Azazel flagrou o pequenino fazendo sua sandice, que fora repreendido, e proibido de praticar e ler livros do tema novamente.

Schnicktick ficara 20 anos cumprindo obedientemente sua penitência, sem sequer tocar num livro cujo tema fosse relacionado a magia. Então, nesse ano, num determinado dia em que estava catalogando livros de velejamento, Schnicktick foi chamado por Azazel, e intimado a o seguir. Foram seguindo pelo corredor da sessão "Religião" da biblioteca, até que saíram para os jardins que ficam ao fundo da humilde biblioteca. Lá, Azazel fitou Schnicktick, e lhe disse essas palavras: "À partir de hoje, terá uma missão a ser incumbida. Lhe irei revelar o maior segredo de meu povo, e segredo que mais protejo. Você deverá ser capaz de guardá-lo com seu próprio esforço, e assim que me superar naquilo mesmo que lhe conferi, deverá passar adiante para alguém de minha raça, quando chegar a hora, você irá saber quem é, assim como eu soube".
E então, o chão se abriu, saindo um pequeno altar dele, cujo o centro estava um livro, que flutuara. Livro velho e sujo, que veio flutuando em direção à Schnicktick, e se abriu. Estava escrito em élfico, e tinha desenhos que ele achara engraçado de elfos de túnica fazendo poses estranhas.

Azazel lhe explicou que aquele era o segredo do seu povo, uma arte de luta e magia que há muito tentara ser roubada, e que muitos morreram defendendo esse segredo. Azazel lhe confidenciou que ele era o último que dominava aquelas técnicas. E que essa arte precisava ser restaurada, pois com seus guerreiros mais fortes, a civilização élfica não seria extinta e o mundo entraria em equilíbrio.
Schnicktick então fora treinado durante muito tempo - ficara feliz quando ferveu uma água pela primeira vez usando magia. Porém Azazel não estava feliz com sua evolução. Parecia que o gnomo não levava jeito para a coisa, com o treinamento que recebera, já era para estar mais evoluído. E esse rosto de desapontamento de Azazel foi a última feição que Schnicktick viu do seu mestre e salvador, enquanto ele ainda estava salvo.

No dia seguinte, Schnicktick acordou com o cheiro de fumaça. A biblioteca estava pegando fogo. Saiu correndo para os corredores, saindo de seu aposento, e deu de cara com humanos ateando fogo nos livros, que logo impeliram contra ele assim que o viram. Schnicktick os derrotou sem dificuldades usando a magia que vinha aprendendo durante esse tempo. Então, ouvira gritos de dor do seu mestre. Correndo com uma fúria e preocupação incessantes, Schnicktick seguiu o som até o jardim da biblioteca, e viu seu mestre cercado por 3 homens. Todos vestiam túnicas pretas, humanos, e o que mais impressionou Schnicktick, estavam usando magia! E contra seu mestre. Schnicktick percebeu que eles não eram fracos, longe disso!! Eram poderosos. Um deles estava em cima dos ombros de um monstro demoníaco de tamanho imenso para o gnomo! O outro flutuava a 5 metros de altura enquanto disparava rajadas de trovão de fogo em cima do campo de força de Azazel... E o último lhe chamou mais atenção - segurando uma bola de cristal, este humano foi o primeiro a notar a presença de Schnicktick, e logo que o notou, falou palavras involuntariamente como acontece quando somos surpreendidos: "Mas quem é esse? Eu não o enxerguei nenhuma vez durante esse tempo! Como isso é possível?". E após essa fala repentina do último humano, Azazel se vira para trás, vê o gnomo, estende a mão, e diz "Confie nos humildes! Eles irão nos salvar. Mantenha-se afastado dos que se dizem proteger-nos", e então abriu-se um portal de 30 centímetros de raio acima de Schnicktick, e caiu sobre ele o livro contendo a arte dos Magos Bélicos das Lâminas Cantantes!

Tudo que Schnicktick lembra depois de aparar o livro em seus braços, é de ser absorvido pelo solo que envolvia seu corpo, e ver seu mestre depositando suas últimas forças para tirá-lo dali.
Tudo que o Gnomo sabe então é que agora ele está em Aerenal "e aqui é muito verde, muito calmo..."